A conta nuclear é nossa
BNDES garante em carta ao
Greenpeace que seguirá investindo em Angra 3 e passa a bola para o bolso do
contribuinte deste custo de alto risco.
No
dia 24 de abril, o
Greenpeace amanheceu na porta do BNDES, centro do Rio de Janeiro, com um
recado impossível de não ser visto: envolto em uma fumaça laranja, simbolizando
uma nuvem radioativa, o pedido para que o banco não financiasse a construção da
usina nuclear de Angra 3. A resposta chegou: o BNDES continuará investindo
neste monstrengo atômico. Se faltar dinheiro, a conta vai para o contribuinte.
Em
carta, o banco avisa que manterá o aporte já aprovado de R$6,1 bilhões para
colocar de pé a velharia. Com a resposta, o banco deixa claro seu descaso com o
dinheiro público e a segurança da população e, contrariando o discurso do seu
presidente, Luciano Coutinho, de que o futuro tem pressa, o BNDES demonstra
apreço ao atraso. Angra 3 é um projeto datado da década de 1970
que, além de antiquado, é perigoso e caro. Seu custo está estimado em mais de
R$10 bilhões, dos quais R$2 bilhões já foram investidos.
Após
o acidente no complexo nuclear japonês de Fukushima, em 11 de março, o governo
alemão, parceiro brasileiro nesta obra, anunciou a revisão da fiança de R$ 3
bilhões que havia estendido ao projeto.
A suspensão levou Dilma Rousseff a fazer um pedido pessoal ao presidente alemão,
Christian Wulff, quando da sua visita ao Brasil, para que interceda em favor
contribuição. Wullf não se mostrou disposto, alegando que investir em nuclear
hoje é pessimamente visto em seu país.
Por
aqui, nem a presidente, nem o BNDES estão preocupados com o que a população
quer, precisa, ou deseja financiar. Segundo a carta do banco, caso o aporte de
fora não venha mesmo, e as chances são grandes, quem vai bancar o montante
bilionário para a construção é a Eletrobrás, empresa controlada pelo governo
brasileiro - com dinheiro nosso.
Na sequência de passar a batata quente adiante, o BNDES afirma no texto que os recursos só foram aprovados graças à regularização dada pelo IBAMA e pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) ao projeto. Parece se esquecer que a vizinha Angra 2 opera sem licença definitiva, que o plano de evacuação do município de Angra dos Reis é assumidamente falho e que não há destinação final para ao lixo radioativo no país. Sequer no mundo.
Geração de emprego, outro argumento citado na correspondência, não parece ser de fato grande preocupação do governo. Medida Provisória assinada pelo ex-presidente Lula no apagar das luzes de 2010 isenta de impostos a importação de equipamentos para usinas no Brasil, beneficiando os países estrangeiros detentores da tecnologia nuclear. Ela agora está na pauta da Câmara dos Deputados, pronta para ser votada a qualquer momento. Deste jeito, se existirem empregos, não serão no Brasil.
Na sequência de passar a batata quente adiante, o BNDES afirma no texto que os recursos só foram aprovados graças à regularização dada pelo IBAMA e pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) ao projeto. Parece se esquecer que a vizinha Angra 2 opera sem licença definitiva, que o plano de evacuação do município de Angra dos Reis é assumidamente falho e que não há destinação final para ao lixo radioativo no país. Sequer no mundo.
Geração de emprego, outro argumento citado na correspondência, não parece ser de fato grande preocupação do governo. Medida Provisória assinada pelo ex-presidente Lula no apagar das luzes de 2010 isenta de impostos a importação de equipamentos para usinas no Brasil, beneficiando os países estrangeiros detentores da tecnologia nuclear. Ela agora está na pauta da Câmara dos Deputados, pronta para ser votada a qualquer momento. Deste jeito, se existirem empregos, não serão no Brasil.
Ao
contrário do que afirma o BNDES, energia nuclear emite sim gases de efeito
estufa na sua cadeia de produção, que começa na extração de urânio. O que de
fato pode ser chamado de energia limpa são renováveis como eólica, solar e
biomassa, por exemplo. Fontes que o Brasil tem de sobra.
“De
acordo com levantamento feito em 2002, o potencial eólico do estado do Rio de
Janeiro equivale a mais de duas vezes a energia que pode ser gerada por Angra
3. A atualização deste levantamento pode dobrar este valor”, diz Ricardo
Baitelo, da Campanha de Energia do Greenpeace. “Desenvolver eólica ao
invés de nuclear trará, além dos benefícios ambientais e da segurança da
população, maior geração de empregos, da cadeia de fabricação, instalação, até
a manutenção do equipamento.
Íntegra da carta do
BNDES ao Greenpeace.
Nota AIE nº 04/2011
Em 27/04/2011
Assunto: Angra III – Carta do Greenpeace
Brasil de 11 de abril de 2011
Esta Nota tem por objetivo apresentar
subsídios para resposta à carta do Greenpeace Brasil (em anexo) em que o BNDES
é instado a suspender o financiamento da Usina Termonuclear Angra III.
Com relação ao acidente ocorrido no
complexo nuclear de Fukushima, entendemos a preocupação por parte daquela
instituição sobre os danos causados pelos efeitos da radiação ao meio ambiente
e à população localizada no entorno do projeto.
Após este acidente, também acreditamos
que alguns dos procedimentos de segurança para a construção e operação de
plantas nucleares poderão ser alterados, tendo em vista que se trata do
primeiro caso de acidente nuclear provocado por uma tsunami.
No entanto, julgamos que não poderá
haver a suspensão do financiamento do BNDES para o projeto de implantação da
usina nuclear de Angra 3, conforme os esclarecimentos descritos a seguir.
A diretoria do Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) aprovou financiamento de R$ 6,1
bilhões para a Eletrobrás Termonuclear S/A (Eletronuclear), objetivando a
construção de Angra 3. A
usina, que faz parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), terá
potência instalada de 1.405 megawatts
(MW), energia equivalente a um terço do consumo do Estado do Rio de Janeiro.
A usina deverá gerar nove mil empregos
diretos durante a fase de construção e 500 empregos quando a usina entrar em
operação. Angra 3 será conectada ao Sistema Interligado Nacional (SIN) por meio
de uma linha de transmissão de operação, utilizada para escoar a energia
produzida pelas usinas Angra 1 (capacidade instalada de 657 MW) e Angra 2
(1.350 MW).
A operação apoiada pelo Banco tem,
ainda, como méritos o aumento da disponibilidade de energia elétrica,
indispensável para o suprimento do país a partir de 2016, com a produção de
mais 10,9 milhões MWh/ano de energia, além de se tratar de uma fonte de energia
não geradora de gases causadores do efeito estufa. Ou seja, contribui com a
melhoria da qualidade do ar, comparada a outras fontes térmicas de energia.
O Contrato de Financiamento foi
celebrado em 23 de fevereiro de 2011 com a Eletrobrás Termonuclear S.A –
Eletronuclear, mediante a interveniência de sua controladora Eletrobrás.
Um dos requisitos para a contratação do
financiamento foi a regularidade do licenciamento ambiental e nuclear do
projeto, respectivamente de competência do Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e Recursos Naturais Renováveis – IBAMA e da Comissão Nacional de
Energia Nuclear (CNEN).
Estes
órgãos são os responsáveis pela análise de viabilidade técnica, bem como
da segurança do projeto. O IBAMA é o órgão responsável pelo estabelecimento de
condicionantes associadas ao licenciamento de modo a que se mitiguem e/ou
compensem os impactos ambientais previstos.
Por sua vez, a CNEN é o órgão federal responsável pela emissão de
licenças, autorizações e fiscalização, no que se refere aos aspectos
radiológicos de instalações nucleares. O processo de licenciamento nuclear
compreende várias etapas, destacando-se as seguintes:
a)
Elaboração de Relatório Técnico do
Empreendimento e Relatório do Local;
b)
Elaboração do Relatório de Análise de Segurança
e de Plano Preliminar de Proteção Física;
c)
Licença de Construção; e
d)
Autorização para Utilização de Material Nuclear.
Deve-se ressaltar que, após o acidente
de Fukushima, caso seja necessária uma revisão de alguns aspectos técnicos do
projeto, os mesmos deverão ser aprovados pela CNEN e/ou IBAMA. Dessa forma, o
projeto está sendo implantado com a expressa concordância destas instituições.
Com relação ao financiamento do BNDES, o
desembolso de recursos para a implantação de Angra 3, somente será realizado
mediante acompanhamentos dos principais itens do projeto a saber: físico,
social, ambiental e financeiro. Em especial, destaca-se a comprovação de
regularidade de situação perante o IBAMA e a CNEN.
Vale mencionar ainda que todas as
medidas de segurança, compensatórias e mitigatórias de impactos socioambientais
são financiáveis pelo BNDES.
Quanto às fontes de recursos para a
execução do projeto pela Eletronuclear, além do financiamento do BNDES, seu
grupo econômico tem notória capacidade para aportes de capital.
Caso haja frustração na contratação de
confinamento externo, a Eletrobrás tem obrigação contratual de aportar os
recursos necessários, sob a forma de capital, mediante subscrição e
integralização de novas ações ordinárias, ou por meio de Adiantamentos para
Futuro Aumento de Capital (AFAC), para a conclusão do empreendimento.
Cobrir-se-á integralmente qualquer insuficiência de recursos que vier a ocorrer
na execução do projeto, bem como acréscimos no seu orçamento global.
Fonte:http://www.greenpeace.org/brasil/pt/Noticias/O-preco-da-inseguranca/
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