Tartaruga comendo saco plástico
O consumo exagerado e o descarte incorreto das sacolinhas plásticas vêm machucando o planeta e deixando poluídos os oceanos, o solo e o ar. Saiba quais são as alternativas que podem ajudar a reverter esse quadro
Elas estão ao alcance da mão
em todos os lugares: farmácias, padarias, lojas e principalmente nos
supermercados. Mas, por trás dessa "fartura" há um dado
surpreendente. De acordo com o Ministério
do Meio Ambiente, a fabricação de saquinhos no mundo pode
chegar a 1 trilhão por ano. E para onde vai tudo isso? O primeiro destino é bem
conhecido: lixões e aterros. "Cerca de 10% de todo o lixo do país é
formado por sacolas plásticas", afirma Jéferson Farias, engenheiro
ambiental e coordenador de Meio Ambiente da Proactiva, empresa especializada em
gestão integral de águas e de resíduos, de São Paulo. Como elas são feitas de
um material derivado do petróleo, portanto, não biodegradável, chegam a
permanecer no meio ambiente por até 400 anos, fazendo com que os problemas se
alastrem assustadoramente. "Essa durabilidade tem um preço e quem paga
somos nós", afirma Cláudio Jorge José, presidente da ONG Funverde, do
Paraná, que combate seu uso desde 2004. "Por serem impermeáveis, elas
impedem a passagem de água e de oxigênio, dificultando a biodegradação dos
alimentos ou materiais recicláveis contidos em seu interior", diz o
engenheiro-químico Telmo Ojeda, doutor em ciências do solo pela Universidade Federal do Rio Grande do
Sul (UFRS). Isso sem contar os gases tóxicos, como metano, gás
carbônico e sulfídrico, produzidos por micro-organismos, que vão parar na
atmosfera assim que o material do plástico degrada. "Esses gases aumentam
o efeito estufa e podem contaminar organismos", afirma Ojeda.
Em época de chuva, o estrago está feito. "Quando chove, o lixo que está na rua vai direto para os bueiros. Ali, o plástico bloqueia a passagem de água e entope tudo", afirma o especialista. O resultado você já conhece: enchentes, alagamentos e trânsito caótico, cenas corriqueiras nas grandes cidades.
Em época de chuva, o estrago está feito. "Quando chove, o lixo que está na rua vai direto para os bueiros. Ali, o plástico bloqueia a passagem de água e entope tudo", afirma o especialista. O resultado você já conhece: enchentes, alagamentos e trânsito caótico, cenas corriqueiras nas grandes cidades.
Ainda tem mais: o que
consegue passar pela tubulação do esgoto cai nos rios, lagos e oceanos.
"Ao chegar nesses locais, ficam flutuando pela superfície e são facilmente
ingeridos por animais como tartarugas e aves marinhas, que os confundem com
alimento e morrem asfixiados", diz Jéferson Farias. Até na hora da
fabricação há perigo. "Além do consumo de água e energia, o uso do
petróleo e do gás natural, ambos recursos não renováveis, geram líquidos e
gases tóxicos que podem contaminar o solo, a água e o ar", afirma.
É HORA DE MUDAR
É HORA DE MUDAR
Motivos não faltam para
repensar sobre a real necessidade dos saquinhos em nossa vida. Dados da
pesquisa Sustentabilidade:
Aqui e Agora, feita em 2010, pelo Instituto de Pesquisa
Synovate, em parceria com a rede de supermercados Walmart e o Ministério do
Meio Ambiente, mostram que 60% das pessoas no país são a favor da proibição de
sacolas plásticas. "Elas estão cada vez mais preocupadas com o futuro do
planeta. Afinal, é nossa única moradia e temos de cuidar dele", diz Cláudio
Jorge José.
É por isso que diversas
medidas vêm sendo tomadas por governos e pela iniciativa privada para reduzir e
até mesmo proibir o uso de sacolas plásticas comuns. Essa jornada ecológica
também conta com o apoio da população que cada vez mais adere às novas
alternativas. Dentre elas a adoção das retornáveis tem dado certo. "A
ideia é reutilizá-las várias vezes ao longo do ano", diz Cláudio Jorge
José. O resultado já pode ser comemorado. Segundo números do Ministério do Meio
Ambiente, em 2007 a produção de saquinhos chegou a 18 bilhões de unidades,
número que caiu para 14 bilhões no ano passado.
EXPERIÊNCIAS DE SUCESSO
EXPERIÊNCIAS DE SUCESSO
A mobilização contra o uso
excessivo de sacolinhas plásticas já vem acontecendo no mundo há cerca de dez
anos. Apesar de as discussões no país terem começado apenas em 2007, mais de 30
municípios brasileiros já adotaram políticas de redução e aumentaram as
campanhas sobre o assunto. Por exemplo, ano passado foi criada a lei de
Política Nacional de Resíduos Sólidos que, entre outras medidas, obriga as
prefeituras a estruturar a coleta seletiva em seus municípios num prazo máximo
de quatro anos. Outra medida que colaborou para a redução do consumo foi a
campanha "Saco É um Saco", criada em 2009 pelo Ministério do Meio
Ambiente. Uma das ações foi distribuir mais de 195.000 sacolas retornáveis por
todo o Brasil, além de orientar como cada um poderia ajudar. "Todas essas
medidas visam o consumo consciente e o estímulo ao descarte", afirma
Fernanda Altoé Daltro, gerente de produção e consumo sustentável da Secretaria
do Ministério do Meio Ambiente.
Patricia Bernal / edição
Carla Leirner
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