O aquífero Guarani, a segunda maior reserva subterrânea de água doce
do mundo, corre sérios riscos de contaminação. Esta é a conclusão de um
estudo de campo realizado por técnicos do Instituto de Pesquisas
Tecnológicas (IPT) do Estado de São Paulo (IPT). De acordo com o
documento, as ameaças de poluição da reserva de água vêm de chorume dos
lixões, resíduos industriais e agrotóxicos espalhados nos canaviais, que
se infiltram no solo e subsolo até chegar aos reservatórios de água.
O estudo do IPT cobriu 143 mil quilômetros quadrados, região que o
aquífero ocupa em São Paulo, porém a reserva se estende também para os
Estados de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás, Paraná, Santa
Catarina, Rio Grande do Sul e Minas Gerais, além de Argentina, Paraguai e
Uruguai.
O coordenador do projeto no Departamento de Hidrografia e Avaliação
Socioambiental do IPT, José Luiz Albuquerque, explica que o estudo se
fixou nas “bordas do Aquífero Guarani – nos municípios de Ribeirão
Preto, Piracicaba, São José do Rio Preto, entre outros –, onde a água
fica à flor da terra e se renova lentamente, sofrendo também as maiores
ameaças de contaminação”.
Para a chamada área de restrição, formada por regiões de preservação
permanente e reservas legais, a pesquisa recomenda projetos ambientais e
exploração racional do aquífero. Para as áreas de ocupação dirigida,
aquelas vulneráveis à contaminação, o documento aconselha a saída de
indústrias que geram riscos ao meio ambiente e o fim do uso de
agrotóxicos em canaviais. Já para a região de recuperação ambiental,
degradadas pela erosão do solo, lixões e ocupações irregulares, o IPT
recomenda que as autoridades criem regras particulares para cada caso.
O consumidor pode fazer a sua parte, evitando o desperdício e a
poluição de água e zelando para que setor produtivo e poder público
também o façam. Pequenos atos em casa, somados dia-a-dia e na população,
resultam em grandes impactos. Se todos os moradores do país, por
exemplo, fecharem a torneira ao escovar os dentes, a água economizada
durante um mês equivalerá a um dia e meio do volume de água que cai nas
Cataratas do Iguaçu. E isto ocorre considerando apenas um único e
pequeno gesto de consumo, o de fechar a torneira ao escovar os dentes!
Resíduos industriais e a poluição por agrotóxicos são resultado da
produção de alimentos e produtos que consumimos. Se o consumidor optar
por empresas que façam corretamente o descarte de seus resíduos, vai
induzir as que não estão totalmente adequadas a se tornarem mais
sustentáveis para não perder mercado.
Sobre lixões, já há uma lei federal, aprovada no ano passado e
regulamenta agora em 2011, que bane os lixões em todo o Brasil até 2014,
mas os prefeitos não podem esperar até lá. Eles são obrigados pela lei a
apresentar até agosto do ano quem, os planos municipais de gestão de
resíduos. Os municípios são obrigados a substituir todos os lixões por
aterros sanitários. Como os cidadãos de cada município estão se
organizando para cobrar seu prefeito e participar da elaboração desses
planos?
Descartar corretamente os produtos usados também ajuda na conservação
da água. Só para dar a dimensão, um litro de óleo de cozinha jogado na
pia polui até 25 mil litros de água. Caso ele seja entregue nos postos
de recolhimento, além de evitar desperdício de água, entupimento no
encanamento e poluição na rede de esgoto, o óleo de cozinha usado serve
de matéria-prima para produzir biodiesel ou para produzir sabão.
Remédios vencidos
ou sobras também não devem ser descartados na pia ou vaso sanitário,
dado seu grande potencial poluidor. Podem ser entregues nos postos de
saúde ou nas farmácias das redes Pão de Açúcar e Walmart.
É bom lembrar ainda que toda compra deixa um rastro de água em sua
cadeia de produção – todo o processo que envolve o plantio e colheita ou
abate ou extração, processamento, transporte, industrialização,
transporte, distribuição, transporte novamente e varejo. A quantidade de
água usada em toda cadeia do produto é chamada “pegada da água”. Já é
possível calcular a pegada individual mensal por meio do Water
Footprint.
Na Europa, algumas empresas já colocam nos rótulos o selo de pegada
da água, que indica o quanto de água é usada para fazer seus produtos.
Por enquanto, este selo não existe no Brasil, mas cabe aos consumidores
organizados fazerem esta exigência.
Aquífero desprotegido
Apesar de ter sido mapeado nos anos 1970, o aquífero Guarani até hoje
não tem lei que o proteja diretamente. O estudo sobre as ameaças às
águas subterrâneas está em debate nos diversos comitês de bacias
hidrográficas deste ano e será um dos temas do Conselho Estadual de
Recursos Hídricos, ainda sem data marcada. “Os estudos devem servir de
suporte para a tomada de decisão dos gestores ambientais, dos recursos hídricos e
do planejamento territorial e urbano, a fim de impedir a contaminação
em áreas vulneráveis e auxiliar o direcionamento da ocupação
territorial”, conclui o pesquisador José Luiz Albuquerque.
O que é o aquífero?
É um conjunto de materiais geológicos que, em razão de sua
característica de formação, possui espaços vazios em seu interior. Com o
passar de milhares de anos, as águas ocuparam estes espaços vazios. O
Aquífero Guarani é uma camada geológica de mais de 100 milhões de anos,
com 1,1 milhão de quilômetros quadrados, dos quais 800 mil no Brasil.
Com informações da Revista Cyan.
* Publicado originalmente no site do Instituto Akatu
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