Manzini, Suazilândia, 3/8/2011 – Um projeto hídrico transfronteiriço
reforça a luta contra a insegurança alimentar e a pobreza ao longo do
Rio Komati, que atravessa África do Sul, Suazilândia e Moçambique. O
projeto, administrado pela Autoridade Hídrica da Bacia do Komati
(Kobwa), reuniu 66 famílias em um projeto de agricultura coletiva na
região de Hhohho, norte de Suazilândia.
A Kobwa é um órgão
intergovernamental criado em 1993 por África do Sul e Suazilândia para o
manejo compartilhado do rio. Este organismo “criou uma reserva
importante, de 332 milhões de metros cúbicos de água, que é distribuída
para as comunidades locais para garantir um manejo sustentável e efetivo
deste recurso escasso nesta parte da África, graças ao compromisso dos
governos dos dois países”, disse à IPS o diretor-executivo do projeto,
Sipho Nikambule.
Para ele, a melhor maneira de fazer isto era
reassentar as comunidades ou famílias em torno de projetos agrícolas
compartilhados. “Isso já permitiu concretizar atividades em grande
escala e beneficiar mais pessoas de uma vez”, acrescentou Nikambule.
“Viemos de diferentes aldeias a 50 quilômetros daqui para nos
estabelecermos na aldeia de Nyonyane, graças a este projeto, e para
trabalhar na produção de 200 hectares de cana-de-açúcar e verduras,
aproveitando um ponto de irrigação compartilhado instalado pela Kobwa”,
disse à IPS o chefe de Nyonyane, Luke Kunene.
“A superfície que
agora cultivamos coletivamente equivale à área combinada que as famílias
cultivavam individualmente em suas aldeias antes de nos juntarmos em
Nyonyane. E depois de cobrir os gastos operacionais e a contribuição
para o funcionamento do projeto, os benefícios são divididos segundo o
tamanho de cada área”, explicou Kunene.
Antes, cada membro da
comunidade tinha sua propriedade individual. Mas isto já não era viável
porque os terrenos eram muito pequenos, suficientes apenas para a
agricultura de subsistência, disse Kunene. “Agora temos um projeto muito
mais amplo, que nos une e gera ganhos de aproximadamente US$ 750 mil ao
ano”, acrescentou.
Como na maior parte do ano a água escasseia, o
terreno está cada vez mais seco, disse Henson Lukhele, motorista de
ônibus que vive na área. “Esta é a base da insegurança alimentar, já que
a produtividade agrícola claramente diminuiu. O projeto reviveu a
agricultura nesta parte do país e restabeleceu os recursos para as
famílias que vivem ali, incluindo a minha”, acrescentou. Lukhele é a
favor do projeto, pois, segundo ele, o manejo efetivo da água é um
desafio enorme nesta parte do país que se tornou árida.
O
administrador ambiental Sibongaye Mkhatshwa acredita que, no contexto da
mudança climática, as dificuldades que a Suazilândia enfrenta estão em
dois planos: acesso a água e luta contra a insegurança alimentar e a
fome. “Este projeto leva em conta os desafios atuais e dá respostas que
os moradores de Nyonyane podem sentir em suas vidas cotidianas”,
afirmou. Segundo Mkhatshwa, “a água é um recurso escasso na Suazilândia.
Isto significa que todo esgoto deveria ser reciclado, purificado e
redistribuído. Quando alguém visita o norte do país vê que a seca está
atacando a agricultura”.
A Kobwa construiu um canal de 24
quilômetros de comprimento que abastece a comunidade agrícola de
Nyonyane, acrescentou Mkhatshwa. Segundo Phillip Maduna, morador de
Nyonyane, “o projeto permitiu, inclusive, a construção de duas escolas
primárias e uma secundária para os moradores. Outro desafio é que toda a
aldeia tenha acesso a água potável. Temos água para irrigação, mas para
beber não é comum”.
África do Sul e Suazilândia responderam por
60% e 40%, respectivamente, para a instalação e o funcionamento do
projeto, avaliado em US$ 238 milhões. A iniciativa já beneficiou dois
mil habitantes da Suazilândia e seis mil da África do Sul desde 2002, o
que se reflete em aspectos como mais emprego e os estudantes terem novas
escolas. Envolverde/IPS
por Charles-M. Mushizi, da IPS
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