Frutos
orgânicos produzidos por agricultores do semi-árido de Pernambuco. Tecnologia
simples dispensa o uso de defensivos agrícolas. Foto: Celso Calheiros
Pesqueira
(PE) Ideias simples, algumas tradicionais e outras descobertas no dia a dia do
campo, atraem pequenos agricultores interessados na troca de informações. Isso
foi o que se viu no Encontro de Agricultoras e Agricultores Experimentadores do
Semiárido, que reuniu mais de 300 pessoas de vários estados do Brasil,
representantes da Argentina, Paraguai e Bolívia. O evento ocorreu em Pesqueira,
entre os dias 26 e 29 de abril, na cidade sertaneja a 215 quilômetros do
Recife, Pernambuco.
A
organização do encontro foi feita pela Articulação do Semi-Árido (ASA), um fórum que reúne cerca
de 700 ONGs com atuação no semiárido brasileiro. Algumas tecnologias
tradicionalmente disseminadas pela organização foram detalhadas, como a
cisterna doméstica, a barragem subterrânea, a cisterna calçadão, o canteiro
econômico e o biodigestor.
Outras práticas, foram conhecidas nas visitas a campo programadas no evento. Homens e mulheres que se orgulham por serem reconhecidos como experimentadores ansiavam pelos momentos em que agricultores falariam diretamente com seus pares sobre as suas experiências de produzir em áreas onde a chuva é pouca, sem regularidade e com seca duradouras.
Os agricultores destacaram a capacidade de transformação que as iniciativas proporcionam. Por exemplo, ao tomarem conhecimento do Programa um Milhão de Cisternas, algumas mulheres da comunidade da Malhada Branca, em Buíque (a 258 quilômetros da capital pernambucana) resolveram acompanhar os encontros e se candidatarem aos benefícios da iniciativa. “Antes, a gente achava que reunião só servia para aposentados ou para tirar dinheiro”, conta Maria José Dias, líder da Malhada Branca. “Agora, aprendemos a construir cisternas e também a construir nossa cidadania”, afirma.
Com quase 400 mil cisternas espalhadas no sertão dos nove estados do Nordeste e no semiárido de Minas Gerais e do Espírito Santo, o Programa um milhão de cisternas ainda não atingiu o número redondo a que se propõe, mas já modificou a paisagem das casas de porta e janela em local ermo e em terra seca. Tornou-se comum visualizar, ao lado da casa simples com fogão de lenha no fundo , um cilindro construído com placas de cimento capaz de guardar 16 mil litros de água da chuva, captada por uma tubulação que começa nas calhas dos telhados. O coordenador executivo da ASA, Naidison Baptista, foi enfático ao falar na abertura do encontro. “As 400 mil cisternas significam dois milhões de pessoas que deixaram de beber água com lama”.
Água para produzir
Principal
iniciativa da ASA, a construção de cisternas domésticas não é o único programa
do fórum. Como esses reservatórios servem apenas para o consumo doméstico, foi
criado o modelo cisterna calçadão, para uso na produção agrícola. Maior, com
capacidade para acumular 52 mil litros, é construída próximo à horta, à
plantação ou à criação. Ao lado da cisterna, em um plano mais alto, uma área
plana com 200 metros quadrados (10m x 20m) é cimentada, com uma pequena parede
de 20cm. Em um ponto mais próximo à cisterna, uma espécie de grande ralo serve
para saída da água da chuva que cair no calçadão. No caso do agricultor
Lourival Guimarães Silva, “seu” Louro para os vizinhos em Buíque, o
investimento foi tão produtivo que ele pensa em repeti-lo. “Eu quero construir
outra”, planeja.
Seu Louro utiliza a cisterna calçadão para a produção de hortaliças colocando em prática outra sacada apropriada para o semiárido, o canteiro econômico. Tudo sob preceitos da agroecologia. O canteiro econômico representou uma redução de 30% no volume de água necessária para produzir diferentes tipos de alface, coentro, cebolinha, rúcula, espinafre. Esse modelo é feito ao se cavar uma profundidade de 20cm a área do canteiro, no caso do seu Louro: 6m x 2m. Depois de cavado, estende-se uma lona plástica. Ao longo e no centro dos 6m coloca-se um cano de PVC com furos a cada 20cm. Sobre os furos, cacos de telha ou pedras para a terra não entupir (como se faz em vasos de plantas). Cobre-se tudo com terra e esterco. “Nada de agrotóxico”, frisa o agricultor. Ao regar, o agricultor derrama água no funil (feito de garrafa PET), na entrada do cano que está enterrado e cheio de furos. A água será distribuída pelo cano inteiro, como em um sistema de irrigação. A água não será absorvida pelo solo, porque embaixo do cano está a lona plástica, logo há sensível economia.
Contra o ataque de pragas e larvas, nada de defensivos, ensina seu Louro. Aplica algumas fórmulas agroecológicas, como a diversificação de culturas (para enganar a larva) e o uso de plantas “com cheiro”, como flores e ervas, para afastar insetos. O agricultor também guarda urina de vaca, eficiente contra alguns insetos vetores de larvas. “O veneno não mata os bichos, apenas cria novos insetos com mais resistência”, adverte.
Seu Louro utiliza a cisterna calçadão para a produção de hortaliças colocando em prática outra sacada apropriada para o semiárido, o canteiro econômico. Tudo sob preceitos da agroecologia. O canteiro econômico representou uma redução de 30% no volume de água necessária para produzir diferentes tipos de alface, coentro, cebolinha, rúcula, espinafre. Esse modelo é feito ao se cavar uma profundidade de 20cm a área do canteiro, no caso do seu Louro: 6m x 2m. Depois de cavado, estende-se uma lona plástica. Ao longo e no centro dos 6m coloca-se um cano de PVC com furos a cada 20cm. Sobre os furos, cacos de telha ou pedras para a terra não entupir (como se faz em vasos de plantas). Cobre-se tudo com terra e esterco. “Nada de agrotóxico”, frisa o agricultor. Ao regar, o agricultor derrama água no funil (feito de garrafa PET), na entrada do cano que está enterrado e cheio de furos. A água será distribuída pelo cano inteiro, como em um sistema de irrigação. A água não será absorvida pelo solo, porque embaixo do cano está a lona plástica, logo há sensível economia.
Contra o ataque de pragas e larvas, nada de defensivos, ensina seu Louro. Aplica algumas fórmulas agroecológicas, como a diversificação de culturas (para enganar a larva) e o uso de plantas “com cheiro”, como flores e ervas, para afastar insetos. O agricultor também guarda urina de vaca, eficiente contra alguns insetos vetores de larvas. “O veneno não mata os bichos, apenas cria novos insetos com mais resistência”, adverte.
Outra
solução disseminada sertão adentro, como a barragem subterrânea, foi exibida
entre as experiências apresentadas aos que visitaram as pequenas propriedades
em Buíque e também no sítio da Pedra Branca, em Cumaru, município a 89
quilômetros do Recife. A construção dessa modalidade de barragem só pode ser
feita em um terreno em declive, que possua uma camada rochosa natural a pelo
menos 6m de profundidade – característica geológica comum no sertão nordestino.
A barragem é feita na parte mais baixa do terreno, no baixio, no fundo de vale.
Cava-se até encontrar a camada rochosa, coloca-se de 50m a 60m de lona plástica
de forma a barrar a passagem natural da água sob a terra. Duas pequenas
construções são levantadas, em alvenaria, para manter a lona e a terra que
segura a lona.
A poucos metros antes da parte mais baixa do terreno é construído um poço. A altura da água no poço revela o nível e, por cálculo, a quantidade de água barrada no subssolo. A água é puxada por bomba do poço para uma caixa d’água em uma parte mais alta. Todo o terreno fica úmido, conta Sônia Maria Barbosa, dona de 2 hectares em Buíque, que planta coco, melancia, capim, pinha (fruta-do-conde), banana, laranja, manga, pitanga, feijão, quiabo e pepino. “Eu consigo plantar mesmo em período seco, porque a terra guarda um pouco da água”, revela Sônia.
A poucos metros antes da parte mais baixa do terreno é construído um poço. A altura da água no poço revela o nível e, por cálculo, a quantidade de água barrada no subssolo. A água é puxada por bomba do poço para uma caixa d’água em uma parte mais alta. Todo o terreno fica úmido, conta Sônia Maria Barbosa, dona de 2 hectares em Buíque, que planta coco, melancia, capim, pinha (fruta-do-conde), banana, laranja, manga, pitanga, feijão, quiabo e pepino. “Eu consigo plantar mesmo em período seco, porque a terra guarda um pouco da água”, revela Sônia.
Além dos agricultores experimentadores, técnicos do governo federal e repórteres acompanhavam cada uma das visitas e faziam perguntas, interessados em multiplicar as experiências bem-sucedidas. O diretor de Promoção da Alimentação do Ministério do Desenvolvimento Social, Marcos Dal Fabro, gostou do que viu e procurou ser otimista para os agricultores. “Devemos ficar atentos às boas ideias porque é assim que o país cresce”, discursou.
Fonte:http://www.oeco.com.br/reportagens/25001-pequenos-agricultores-experimentam-agroecologia
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