Ministério
Público Federal e Ministério Público de Mato Grosso do Sul recomendaram
ao Ministério do Meio Ambiente a realização de Avaliação Ambiental
Estratégica na Bacia do Alto Paraguai, com o objetivo de mensurar os
impactos ambientais decorrentes da exploração intensiva do potencial
hidrelétrico no planalto que circunda a planície pantaneira.
A suspensão dos licenciamentos
ambientais em Mato Grosso do Sul e Mato Grosso justifica-se pela
necessidade de interromper a expansão dos empreendimentos antes que
danos mais graves sejam causados ao pantanal. A Bacia Hidrográfica do
Paraná, da qual faz parte a Sub-Bacia do Alto Paraguai, é a mais
explorada do país para geração de energia, com índice de utilização de
73% em relação ao potencial inventariado.
Laudo da Câmara Técnica do Ministério
Público Federal catalogou 114 empreendimentos previstos para a Bacia do
Alto Paraguai (44 em operação, 47 em aprovação/análise e 23
inventariados), além de outros 23 estudos de inventário ainda em
andamento. Se forem implantados todos esses empreendimentos, o laudo
registra a “indiscutível possibilidade de que o hidrograma geral da
cheia pantaneira e outros parâmetros de relevante importância para o
equilíbrio ambiental exercido pelo Pantanal possam ser alterados”.
Sustentabilidade
As medidas determinadas pelos Ministério
Público objetivam estabelecer os limites de sustentabilidade ambiental
da exploração do potencial energético da Bacia, assegurando a
preservação do bioma pantaneiro, classificado pela Organização das
Nações Unidas (ONU) como Patrimônio Natural da Humanidade e Reserva da
Biosfera. “Em função da sua fragilidade e do grau de impactos que vem
sofrendo, é possível considerar o Pantanal em estado ameaçado de
conservação”.
O estado brasileiro também não cumpriu o
compromisso reafirmado na última Conferência das Partes da Convenção
sobre Diversidade Biológica das Nações Unidas de preservar pelo menos
10% do Pantanal. Atualmente, apenas 4,07% do território do Pantanal está
protegidos em Unidades de Conservação, sendo 2,22% em unidades de
proteção integral e 1,85% em unidades de uso sustentável.
Os impactos atingem potencialmente
regiões em outros países, como Bolívia e Paraguai, o que também
contraria a Convenção sobre Diversidade Biológica, em que o Brasil
assumiu a “responsabilidade de assegurar que atividades sob sua
jurisdição ou controle não causem dano ao meio ambiente de outros
Estados ou de áreas além dos limites da jurisdição nacional”.
A solução proposta é a elaboração de uma
Avaliação Ambiental Estratégica (AAE) em toda a Bacia do Alto Paraguai
(BAP). A diferença entre a Avaliação Ambiental Estratégica e as
avaliações convencionais é que ela leva em consideração os impactos
cumulativos dos empreendimentos. Assim, os estudos para instalação de
uma nova usina em um rio que já possua uma barragem, por exemplo,
deverão somar o impacto já existente com os impactos do novo
empreendimento.
Atualmente, o licenciamento ambiental de
um projeto é concedido a partir de avaliações do impacto ambiental
apenas para um dado empreendimento. Já a AAE permite a identificação, o
mais cedo possível, dos efeitos cumulativos e das alterações de grande
escala. A vantagem é que ela compatibiliza a geração de energia com a
conservação da biodiversidade e a manutenção do equilíbrio ecológico do
bioma pantanal.
O texto da recomendação afirma que “é
impossível que diferentes estudos que contemplem os projetos de geração
isoladamente consigam fornecer as respostas aos questionamentos que hoje
são apresentados pela sociedade quanto à manutenção/conservação do
bioma Pantanal face ao desenvolvimento econômico da região”.
Foram expedidas recomendações para o
Ministério do Meio Ambiente, Ibama e os órgãos ambientais de Mato Grosso
do Sul (Imasul) e Mato Grosso (Sema). O acatamento da recomendação deve
ser comunicado em até 45 dias.
Com informações do MPF.
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