Escondida sob a floresta amazônica há uma riqueza de nada menos de
US$ 1,9 quatrilhões. Esse é o valor estimado para a reserva subterrânea
que o país possui do mais básico recurso necessário para a sobrevivência
humana: a água. Além disso, a Amazônia tem reservas de petróleo, ferro,
alumínio e manganês que valem, juntas, em torno de US$ 12 trilhões. E
uma capacidade de sequestrar carbono estimada em US$ 379 bilhões. Isso
tudo, claro, se a floresta permanecer de pé.
É o que aponta um estudo
inédito do coordenador de sustentabilidade ambiental do Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), José Aroudo Mota. Tivemos acesso à
pesquisa, que será apresentada pela primeira vez hoje no Seminário da
Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais. De lá, o estudo
seguirá para a presidente Dilma Rousseff, que poderá usar os dados para
negociações internacionais sobre o valor da biodiversidade brasileira.
A
necessidade de se calcular o valor dos serviços ecossistêmicos é uma
tecla em que a Organização das Nações Unidas (ONU) tem batido
frequentemente. A instituição possui, desde 2010, um projeto chamado
Economia dos Ecossistemas e Biodiversidade (TEEB, na sigla em inglês),
liderado por Pavan Sukhdev, que chefia a iniciativa "Economia Verde" do
Programa da ONU para o Meio Ambiente (PNUMA). E vários países têm
estimadas suas riquezas. Mas o Brasil ainda não tinha os cálculos. Por
isso, o economista e especialista em sustentabilidade José Aroudo Mota
iniciou a pesquisa no Ipea, que recebeu o nome de "Valoração dos
Serviços Ecossistêmicos", após um encontro com Pavan Sukhdev, que esteve
no Brasil no início do ano:
_ Temos que conhecer o valor das
nossas riquezas, até para poder falar de igual para igual em negociações
internacionais. O Brasil não conhece a riqueza econômica da floresta.
Quando o representante da ONU veio ao Brasil, esteve no Ministério do
Meio Ambiente, no Ipea, e comecei a calcular nossas estimativas _ disse
José Aroudo.
Segundo o pesquisador, havia estimativas, nas quais ele se baseava, de que a biodiversidade brasileira valia em torno de US$ 4 trilhões. Mas, apenas levando em conta dados do
IBGE de que há, na Amazônia ,1.344. 201, 7 quilômetros quadrados de
aquíferos porosos (dado de junho de 2011), a riqueza já atinge a casa
dos quatrilhões. Trata-se de um potencial econômico que ainda não pode
ser medido em sua totalidade. Mas, tendo em vista os dados levantados
por Mota, já é possível afirmar que a floresta de pé pode se tornar o
principal ativo econômico do país, se for preservado.
Isso vale
também para as espécies animais. Sozinha, uma arara azul vale US$ 60 mil
no mercado internacional oficial. Um mico leão dourado vale US$ 20 mil.
E apenas um grama do veneno retirado da aranha marrom para produzir
medicamentos é estimado em US$ 24 mil. Mas, enquanto não se ampliam
estratégias de proteção para a biodiversidade, todas essas espécimes são
alvo da biopirataria internacional e do tráfico ilegal de animais, que
movimenta mais de US$ 1 bilhão por ano.
_ Os números querem dizer:
não derrube a floresta. Isso não é inteligente. Se derrubar, lá se vão
alguns quatrilhões de dólares, somando a água, o estoque de carbono e
etc. Se não há árvores, a água não fica estocada no subsolo e o carbono
não é sequestrado. Perde-se muito a cada espécime retirado sem
precaução.
O Razão Social teve acesso com exclusividade aos
números, que serão divulgados hoje. O pesquisador trabalhou no
cruzamento de dados oficiais de órgãos como IBGE, Ministério do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Departamento Nacional de
Produção Mineral e com valores negociados no mercado internacional de
carbono e água por m3. A pesquisa será disponibilizada na íntegra pelo
Ipea somente em meados de setembro.
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