Um novo fenômeno mundial chama a atenção de estudiosos de tendências
do mercado: o crescente protagonismo das mulheres nas questões de
consumo.
Dos alimentos ao vestuário, da casa ao carro, dos bens culturais às
viagens de férias, são elas que estão decidindo o presente e o futuro do
consumo e, obviamente, o futuro da produção. Estudos recentes mostram
que mais de 60% (em alguns casos, 80%) das decisões de compra são
tomadas por mulheres.
Além de já integrarem cerca de 50% da força
de trabalho e de ingressarem em maior número nas universidades, as
mulheres vêm se constituindo em força política que pode ser
significativamente transformadora em vários campos. É preciso explicitar
o elo entre o poder de transformação das mulheres e a extraordinária
oportunidade que se apresenta de imprimirmos qualidade diferente àquilo
que se chama “consumo de massa”.
Por trás da expressão que dilui
identidades está o consumo de famílias, de indivíduos e de consumidores
coletivos. Pessoas e instituições compram e consomem bens e serviços e
movimentam a economia, para o bem e para o mal. Contribuem, desejem ou
não, com o crescimento dos índices dos empregos verdes e decentes, dos
negócios sustentáveis, da economia da reciclagem, ou do seu contrário.
Há
muito se fala em empoderar as mulheres, o que é correto e está na ordem
do dia. Basta lembrar o discurso de posse da nossa presidenta Dilma
Rousseff. Porém, pouco se fala em como mobilizar as mulheres para ações
que façam a diferença nas estratégias de sustentabilidade econômica.
Por
essa razão, nós temos estabelecido uma agenda de trabalho envolvendo
empresárias e líderes de instituições em diversos campos, buscando o
desenho de uma iniciativa nacional capaz de unir a força feminina em
torno do desenvolvimento sustentável. Dois temas parecem promissores: o empreendedorismo verde e como mudar padrões de consumo.
Estabelecer
no país um padrão de consumo mais responsável, influenciando com o
nosso poder de compra um mercado que está sempre atento às mudanças de
atitude do consumidor – eis uma proposta que tem a chance de se desenvolver em tempos de euforia do consumo da chamada nova classe média.
Influenciar
para que os atos de consumo sejam atos afirmativos do valor da vida, de
uma sociedade que cuida de si e do ambiente, é a pauta que propomos às
mulheres, tanto às do campo quanto às dos escritórios. Motivar as
mulheres a adotar esse consumo transformador é algo nobre.
A
Rio+20, conferência da ONU que ocorrerá no Rio de Janeiro, em junho de
2012, discutirá a erradicação da pobreza, a “economia verde” e as ações
para acelerarmos a transição para uma sociedade sustentável.
Em
Brasília, todo mês de agosto, na Marcha das Margaridas, mulheres
organizadas pelos movimentos sociais do campo vêm à capital apresentar
suas reivindicações.
São agricultoras, mães e chefes de família,
morenas do sol, as mãos calejadas da terra, as quais convidamos a se
engajar nessa mudança de comportamento.
As mulheres já são maioria
em nosso país: 53% da força de trabalho. Mas ainda falta o engajamento
claro e eficaz nas questões da qualidade de vida, em que a
sustentabilidade é parte do conjunto de valores que nos mobiliza.
Sim, nós podemos e devemos.
Que as margaridas de agosto se transformem nas margaridas do ano inteiro, da inteira vida do nosso frágil planeta.
* Izabella Teixeira é ministra do Meio Ambiente.
** Publicado originalmente no site EcoD.
Agência Nacional de Água
(EcoD)
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