Tema de debates acalorados, as mudanças no texto, ainda em discussão no Senado, estão longe de se constituírem em consenso.
A proposta de alteração do Código Florestal, aprovada na Câmara,
chegou ao Senado com os mesmos dilemas que causaram meses de debates
acalorados entre ruralistas, ambientalistas e governo. Por isso foi um
dos mais animados painéis realizados até agora na Conferência Ethos
2011. A expectativa dos debatedores e do público é que nos próximos
meses se consiga construir uma nova proposta que contemple alguns dos
pontos mais polêmicos da lei, com a Reserva Legal, as Áreas de
Preservação Permanente, a anistia das multas aplicadas até 2008 e a
dispensa da reposição florestal de áreas inferiores a quatro módulos
fiscais.
O painel “Os Impactos de um Novo Código Florestal” contou
com a participação de pesquisadores, ambientalistas e representantes do
setor produtivo rural. Moderado por Raul do Valle, um dos coordenadores
do Instituto Socioambiental, a mesa teve a participação de André
Nassar, diretor geral do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações
Internacionais (ICONE) e coordenador da Rede Agro; Elizabeth Carvalhaes,
presidente executiva da Associação Brasileira de Celulose e Papel
(Bracelpa); e Ricardo Ribeiro Rodrigues, professor de ciências
biológicas da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da
USP.
O tema, como tem sido desde o início da discussão na Câmara,
polarizou ânimos. André Nassar, por exemplo, acredita que o novo código
contém elementos que ajudam a conciliar desenvolvimento econômico e
proteção ambiental. Para ele, “esse novo código é um voto de confiança
para os produtores se regulamentarem”. Posição contrária à do professor
Ricardo Rodrigues, que vê nas alterações que podem ser inseridas na
legislação vigente o risco de um abrandamento da proteção aos recursos
ambientais. Ele destacou que os principais problemas não dizem respeito
apenas ao meio ambiente, mas à política agrícola nacional. “Dos 275
milhões de hectares utilizados pelo setor produtivo rural brasileiro,
211 milhões são pastagens. E a produtividade geral por hectare é muito
baixa”.
Uma convergência
Ponto de
convergência entre os expositores foi sobre a necessidade de mais
discussão e compreensão dos chamados “serviços ambientais”. Para
Elizabeth de Carvalhaes, mudanças no Código Florestal devem incorporar
estímulos a propriedades que mantém as reservas legais e as Áreas de
Preservação Permanente (APPs). “Atualmente os incentivos econômicos são
modestos. A legislação deve permitir a compensação, seja tributária ou
de qualquer outra forma, para tornar mais viável a preservação das áreas
de matas”, destaca.
O público pode opinar, em tempo real, acerca
de alguns dos pontos controversos do novo texto de lei. Novidade da
Conferência Ethos deste ano, a votação interativa questionou o uso de
recursos públicos para incentivar a proteção florestal e a necessidade
de simplificação técnica do Código:
“Sou favorável a usar recursos públicos para apoiar a proteção de florestas pelos proprietários rurais?”
• Concordo plenamente: 31%
• Concordo parcialmente: 47%
• Não concordo, nem discordo: 5%
• Discordo parcialmente: 11%
• Discordo plenamente: 6%
“O Novo Código deve”:
• Ter regras gerais de simples compreensão, mesmo que não enxergue as peculiaridades locais: 27%;
• Ter regras diferentes para cada região do país, mesmo que isso implique em mais complexidade na sua aplicação: 73%.
Pelas
respostas da platéia pode-se inferir que uma parte da sociedade apóia a
utilização de recursos públicos para garantir a preservação de áreas
florestais e de APP Brasil. Mas também que diferentes devem ser tratados
de forma distinta, com abordagem diferenciada da legislação sobre as
particularidades de cada um dos seis biomas brasileiros.
Contudo,
debates também mostraram que ainda se está longe de um consenso em
relação aos critérios para uso da terra e os limites para a preservação
ambiental para manutenção dos serviços ambientais e a resiliência
regenerativa dos biomas.
O projeto de lei do novo Código Florestal, em discussão no Senado, deverá ser votado ainda neste ano.
por Redação Agência Envolverde
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