O sol pode amenizar o aquecimento global?
Cientistas americanos afirmam que um novo período de baixa atividade do astro deve reduzir as temperaturas na Terra.

O medo do aquecimento global pode ser em vão. Pelo menos é o que dizem
três estudos independentes que geraram polêmica nas últimas semanas.
Cientistas anunciaram que o Sol passará por um novo período de baixa
atividade. O último evento do tipo é conhecido como Mínimo de Maunder,
ocorrido entre 1645 e 1715. O período coincide com as menores
temperaturas registradas na Europa, época conhecida como Pequena Idade
do Gelo, quando rios congelaram e vilarejos foram cobertos de neve. O
frio inesperado compensaria os efeitos das mudanças climáticas, que
podem aquecer o planeta em até 6 ºC até 2100, segundo as previsões mais
pessimistas.
Os estudos analisam dados do interior, superfície e atmosfera superior
do astro e concluem que o próximo ciclo solar – que define, entre
outros, o calor que ele emite – vai acontecer com pelo menos dois anos
de atraso, se é que vai acontecer. O sol está em constante atividade,
com o material interno indo para o exterior a cada 11 anos. O próximo
desses eventos, previsto para se iniciar em 2020, só começaria em 2022.
O fenômeno pode ser detectado pela observação das chamadas manchas
solares. Trata-se do material que se resfria quando chega à superfície
do Sol e se torna mais claro. Já no século 17, os astrônomos Galileu
Galilei e Giovanni Cassini rastrearam as manchas com telescópios
especiais e registraram a ausência de atividade durante o Mínimo de
Maunder. Na mesma época, cientistas reconheceram que essa movimentação
acontece em ciclos regulares. Estamos agora no ciclo 24, com um máximo
de atividade solar previsto para 2013.
Apesar da aparente regularidade, os cientistas concordam que é
imprudente cravar qualquer previsão quanto à atividade de um astro
literalmente imprevisível. “Os estudos sobre o Sol são muito recentes e
ainda precisamos presenciar mais eventos para testar novas teorias”, diz
o astrônomo Victor D’Ávila, do Observatório Nacional. “Será um evento
excitante”, disse à ISTOÉ Matt Penn, do National Solar Observatory, nos
EUA, autor de um dos estudos. “Temos a chance de presenciar um
comportamento nunca antes visto”, afirma.
O pesquisador é cauteloso ao comentar a possível influência da atividade
solar na temperatura da Terra. “Não sou cientista climático. Mas meus
conhecimentos dizem que o Sol controla o clima terrestre de uma maneira
muito complexa: o aquecimento gera entrada de calor no planeta, mas a
radiação solar muda a nossa atmosfera e controla também a saída desse
calor”, explica.
Como pontuou o especialista em ciência da revista americana “Wired”,
Brandon Keim, estudos anteriores já haviam sugerido que a Pequena Idade
do Gelo pode ter sido resultado da atividade vulcânica, que cobriu os
céus de cinzas e limitou os raios solares que normalmente penetram na
atmosfera. Um estudo de 2001, publicado na revista especializada
“Science”, mostra que a atividade solar reduzida contribuiu para a
diminuição da temperatura terrestre em meras frações de grau.
No ano passado, em outro estudo, Georg Fuelner e Stefan Rahmstorf, do
Instituto de Pesquisa em Impactos Climáticos de Potsdam, na Alemanha, se
propuseram a responder o que aconteceria à Terra se um novo período de
baixa atividade solar ocorresse. A resposta: o futuro será muito mais
quente, com ou sem um novo Mínimo de Maunder. “Outro evento desses
não é páreo para o aquecimento causado pelos gases de efeito estufa”,
concluíram os cientistas.
O climatologista Michael Mann, um dos autores do estudo de 2001,
exemplifica do seguinte modo. “O efeito estufa hoje equivale a 2
watts de energia iluminando cada metro quadrado da superfície da Terra. É
como uma árvore de Natal a cada metro quadrado. No meio do século,
esses 2 watts serão 4”, diz. “O impacto máximo do Sol é de 0,2 watt por
metro quadrado.” Não será o Sol uma solução milagrosa para o aquecimento
do planeta. A saída deve continuar por nossa conta.

http://www.istoe.com.br/reportagens/143560_O+SOL+PODE+AMENIZAR+O+AQUECIMENTO+GLOBAL+
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